segunda-feira, 18 de abril de 2011

Desaparecer.


       Às vezes eu brinco de ficar invisível. Um olhar sustentado por um milésimo de segundo, e então me desvio como que de uma bala certeira; e tanto eu quanto o outro continuamos a rota original. É um jogo, uma espécie de brincadeira de mau-gosto. É um atentado a esta dimensão. Na quebra da linha tênue que une o olhar desfazem-se as linhas e os preenchimentos, as nuances. Somem as cores e eu vou ficando transparente, transparente, até desaparecer; ou talvez adquira a cor do ambiente, veja bem, pois é assim que as coisas costumam ser.

       Já não faço tentativas, pois sou perita. E já não me deixo enganar por uma linha do tempo recheada de sabores e cheiros que me fazem lembrar, pois o poder é mais forte — desvio o olhar e fico invisível. Invisível. Indiferente. Continuo meu caminho como eu mesma, alguém que não precisa de poeira estelar orbitando ao redor de si.

       Às vezes eu me olho no espelho e me encontro invisível. Sustento o olhar por um milésimo de segundo.

       Um milésimo de segundo.

       Um milésimo.

       Um.



       (O efeito colateral é a tristeza.)

Um comentário:

  1. Acho que sei porque você escreveu isso.....!! shaysuyash
    Você muito sentimental!!
    Incrível futura escritora.

    ...Não desista . Vá em frente . Sempre há uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso . =D

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