quarta-feira, 30 de maio de 2012

Poemas-prosa

Alô de novo, galerë!

Ontem estávamos eu e Dré (é, de novo. Até parece que eu não conheço mais ninguém além desse cara) falando sobre a nana e sobre francês, e eu me lembrei de uma coletaneazinha de poemas-prosa que eu tenho aqui. Eu decidi escrever assim por dois motivos: o primeiro é que, bom, na aula de Língua Portuguesa, à época, estávamos estudando essas coisas, e minha professora deixou bem claro que poema era poema, e prosa era prosa. O segundo é que eu sempre acabava rimando as palavras quando escrevia um texto, mesmo sem querer; então, de intrometida que sou, resolvi quebrar a regra do poema e da prosa e misturar os dois. Eu gostei do resultado, principalmente porque me rendeu críticas super positivas das minhas duas professoras favoritas, a Míriam e a Patrícia.

E aí vai pra vocês alguns dos meus favoritos.

Poema-prosa em desequilíbrio térmico. (1.20.11—1.21.11)
Eu não sei falar francês. Faço longos poemas que são prosa, desafiando e desafirmando os clássicos do português. Língua, não indivíduo. Palavra abstrata. Francês, não sei falar francês. Junções de letras em palavras em linhas em blocos em páginas extensas ou não. Infinitas ou não. Rimadas ou não. Sim, rítmicas.
Eu não sei falar francês. Assim, me engasgo ao falar com simples palavras brasileiras, antes portuguesas, vindas do latim. Latim é uma língua morta, e eu não sei falar latim, embora não tema a morte. Há uma ligação universal entre pequenos fatos.
Eu não sei falar francês. Não falo escrevo canto compreendo. Não sei. Sou poeta, e não sei falar francês, a língua do amor. Sou poeta e não aprendia a amar — mas Cássia me precede. Mas. Mas amor é por demais abstrato. Abstrato como um rádio. Ou como o francês.
Eu não sei falar francês. Se o soubesse, declamaria a beleza das gotículas de orvalho que beijam serenas o veludo das flores. Criticaria a Razão e a Morte, mas não a razão da morte. Se francês falasse, talvez eu chorasse. Ou risse.
Eu não sei falar francês, pois o bonito é desastroso. Não sei fazer sonatas ou passar noites em claro a escrever poemas. Meus poemas são em prosa, por não saber falar francês. Ou latim. Sei falar inglês, mas de que me presta? Pregos-palavras repousam simples-seguras em um alicerce de felicidade-amor. Tão complexo.
Eu não sei falar francês. Possivelmente, quando Deus criou o mundo à imagem de sonho utópico, deparou-se com terras e guerras e povos e messes. E entre eles um emaranhado de “érres” e crases e “ésses”, E então se deu conta de que também ele não sabia falar francês, como eu.


Considerações evasivas sobre não-fatos dispersos. (1.20.11—1.21.11)
Aqui eu só. Na falta da descrição, um verbo-adjetivo de belos atributos. Tão bonito como nunca se viu, e de fato nunca se havia visto. Belo como o verde presente no pasto. Infinito.

Canto; aqui eu canto. Embarcam ao vento acordes perturbados de minha voz. Semi-agudos. Falsetes. Muitos, muitos graves, de um meio-tom. Baixos para que a voz não se perca. Canto pássaros coloridos que se descolorem em minhas palavras cruas, em preto, em branco, nuances nuas. Cheias de tanto vazio.

Faltam-me palavras de nível elevado e teor sabido. Busco ao dicionário, ancião prudente. Não como Clarice ou Paulo, não como José ou Pedro, Lya ou Mário. Não como mestres, mas humilde aprendiz na inocência de seus predicados. A complexidade de sua alma em palavras simples e boas. A complexidade de sua alma em um corpo cansado de olhos míopes. Corpo simples por ser complexo, metabolismo metafórico. A beleza estava em suas imperfeições.

Seus critérios perderam no ar a si mesmos; de lembranças visuais evadiram-se as lembranças, restaram a seus olhos as vazias e ocas cascas-imagens. Ocas. Vazias de tanto vazio.

A pequena não mais sabia o significado do seu Ser.

Voracidade infinita. Exposta, a carne se deixava consumir sob sol e sombra. Imposta a regra “somente sentir”, sua índole imaginária (e imaginada) voava sobre fantasias medievais e linhas continuamente cruzadas em losangos. A carne queimada sob o sol, embora na sombra. A carne se escondia dos olhos formados por si mesma.

Nem Clarice estava tão certa de modo a terminar com um ponto. Foi admirada a beleza incerta de sua alma poeta.

(As vibrações que desejo a ti não é permitido imaginar. Não-poéticas de forma segura, muito à frente de seu tempo. Ou muito antes.)

Nunca aprendi o segredo da grande árvore que guardo até hoje, porque é segredo. E um segredo só se conta para a Morte.

Às vezes brinco com Substantivos transformados em Pessoas, com uma mudança, de tão simples, complexa.

Quando fecho os olhos, vejo nada; nada infinito, tão invisível que dá náusea, ou tontura. Quando os abro há o nada concreto que é o mundo. 



E é isso aí mesmo. Qualquer dia desses eu volto a escrever (se a preguiça deixar, o que é difícil, viu?).

3 comentários:

E aí, pequeno gafanhoto, o que você achou disso tudo?